João 3.14-21

João 3:14-21


Claudir Burmann
4º Domingo na Quaresma, 18.03.2012

3.14 - Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado,

3.15 para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna.

3.16 Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna.

3.17 Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.

3.18 - Aquele que crê no Filho não é julgado; mas quem não crê já está julgado porque não crê no Filho único de Deus.

3.19 E é assim que o julgamento é feito: Deus mandou a luz ao mundo, mas as pessoas preferiram a escuridão porque fazem o que é mau.

3.20 Pois todos os que fazem o mal odeiam a luz e fogem dela, para que ninguém veja as coisas más que eles fazem.

3.21 Mas os que vivem de acordo com a verdade procuram a luz, a fim de que possa ser visto claramente que as suas ações são feitas de acordo com a vontade de Deus.



Estimada comunidade!

Tempo de quaresma é tempo especial para percebermos até que ponto o Deus cristão é capaz de chegar para a salvação de quem nele crê. Essa ação de Deus é incomparável ao que qualquer ser humano é ou seria capaz.

Não é assim que na realidade atual a família, os filhos e as filhas são praticamente intocáveis? Em nosso contexto de valores, não é absurdamente contraditório alguém "sacrificar" um filho ou uma filha para salvar a vida de outras pessoas? Quem em nosso contexto teria coragem para tal? Vejam bem, não é difícil encontrar resistências até mesmo ao ato de doação de órgãos, quando isso seria perfeitamente possível, ou mesmo ao simples ato de doação de sangue.

A ação de Deus é surpreendente e quase inacreditável para muita gente tanto em seu tempo quanto nos tempos atuais: "Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho". Nesse tempo de quaresma, uma vez mais, é feito o convite ao compromisso de fé com esse Deus, a partir desse amor primeiro e inigualável que ele tem revelado às pessoas.

Nesse sentido na palavra do Evangelho de João são apresentadas diversas comparações e paralelismos didáticos para compreender a ação surpreendente de Deus. Vejamos:

Moisés levantou uma cobra de bronze numa estaca para a cura do povo - o Filho de Deus, Jesus, tinha que ser levantado para a salvação da humanidade.

Pela fé, ou seja, pelo crer:

Não há morte, mas vida eterna.

Há salvação, e não julgamento.

A luz se manifesta, e a escuridão ofusca.

Vive-se de acordo com a verdade, e o mal - aquilo que é mau - é afastado.

Enfim, Deus agiu para que, pela fé e pelo crer, se tenha a vida eterna.

Pois bem! Ao estabelecer a comparação com o tempo de Moisés, o evangelista coloca a ação de Deus dentro de um contexto maior na história da salvação. Ele mostra que o olhar de Deus para este nosso mundo vem de longa data. Ele evidencia a atenção que Deus dá às suas criaturas e à sua criação. Em momentos de desesperança e desespero, mais do que nunca, esse Deus intervém. E faz uso de pessoas e de formas espantosas.

Assim como a exposição da cobra de bronze numa estaca por Moisés, assim também a exposição de Jesus numa cruz é símbolo de contextos e épocas específicos. Pode-se ver que, em seu modo de agir, a cada tempo, Deus tem feito uso de meios e modos contextuais e, por isso, talvez, estranhos aos olhares das pessoas. De tão comum que certas coisas se tornam, parece estranho Deus mostrar sua forma de cura e salvação por meio delas. Contudo, essa tem sido a maneira admirável de Deus realizar seus propósitos com sucesso.

Moisés foi instrumento da luz de Deus na escuridão em que o povo estava fazendo uso de algo que a muitos olhos seria incentivo à idolatria. Entretanto, era a linguagem por meio da qual Deus estabeleceu sua comunicação com o povo. E o povo compreendeu, voltando ao caminho da verdade.

Isso leva a perguntar: quais são os meios e modos que Deus estará usando para alcançar seus propósitos no tempo e contexto em que vivemos? Apesar de se falar da ausência de Deus ou de sentir a quase ausência de Deus na vida de muita gente, não será isso um modo próprio de Deus manifestar sua presença e revelar seus propósitos?

Seja como for, quanto aos propósitos de Deus, não há interrogações a fazer. A ação de Deus tem caráter de salvação e vida eterna. E essa oferta é feita de maneira ampla, conforme essa palavra do Evangelho. A condição é a fé - o crer nele, no Filho, em Jesus Cristo.

Desse crer decorrem consequências que se evidenciam no modo de viver e de se relacionar com o mundo existente - não apenas uns com os outros, enquanto pessoas. Ou seja, da fé surge uma ética de vida, em relação ao conjunto da criação. A vida de acordo com o que é verdade e, melhor ainda, de acordo com o que é justo, é consequência ética do compromisso da fé em Jesus Cristo. E é importantíssimo lembrar que ser justo é muito mais que fazer aquilo que se julga correto - pois nem sempre o correto coincide com o que é justo.

Estimada comunidade, o desafio que vem desse evangelho nesse tempo de quaresma é compreender de fato a ação de Deus, de modo que haja comprometimento pela fé, com consequências reais no dia-a-dia da vida.

Há uma tendência de achar que a sociedade, ou mesmo uma comunidade, precisaria dar alguns passos para trás, "voltando mais para o passado", para viver de modo mais autêntico a fé no Filho de Deus. É claro que dar passos para trás muitas vezes é fundamental na vida, pois ajuda a dar impulsos para avançar com mais vigor. Entretanto, o desafio colocado é viver o compromisso de fé, com suas consequências, na situação de cada dia no tempo que se vive. Nem o passado e nem o futuro nos pertencem, mas tão somente o tempo presente. Por isso, é na conjuntura e nas situações vividas no dia-a-dia do tempo presente que as consequências do compromisso de fé devem se concretizar.

Ou seja, é no ritmo da vida e do mundo que nos envolvem que somos chamados a ser luz e a rejeitar aquilo que é mau. Isso não significa a rejeição indiscriminada ao que há em nossos contextos de vida, seja na vivência cultural, seja em termos de ciência e tecnologias. É em meio a essas situações que Deus também se revela com sua oferta de salvação. Inclusive pode estar fazendo uso de algum desses meios contextuais para realizar seu propósito. O discernimento da realidade sempre exige muita sabedoria para perceber a ação de Deus para salvação de sua criação. Ou seja, ação de Deus que chega ao ponto de entregar seu Filho à morte na cruz para perdão e salvação das pessoas pecadoras.

Que esse tempo litúrgico da quaresma auxilie na percepção e no entendimento do grande amor de Deus com relação às suas criaturas e à sua criação toda. É um amor que se revela na entrega extrema e surpreendente de seu Filho Jesus em sua morte na cruz. Que a compreensão do propósito de Deus ali manifestado conduza ao compromisso de fé com consequências reais no dia-a-dia da vida; compromisso com uma forma de vida em que a verdade e o que é justo prevaleçam. Isso pode ser vivenciado na família, na comunidade, nas relações de trabalho ou de lazer, como no conjunto da sociedade em que se vive. Eis o desafio que vem da incomparável e surpreendente da ação de Deus!

Amém.



P. Ms. Claudir Burmann
Massranduba, SC. Brasil
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